Notícias

Fandango encanta crianças e viajantes na Rodoviária

Cesar Brustolin/SMCS

A alegria do fandango e de cerca de 200 crianças de escolas municipais tomou conta da Rodoviária de Curitiba na tarde desta sexta-feira (13). Convidadas de honra, as crianças assistiram, ao som de aplausos, a apresentação do grupo de fadango Pés de Ouro, de Paranaguá. Como vem acontecendo a cada evento na Rodoviária, passageiros, funcionários e visitantes se concentraram no entorno do tablado do Mestre Nemésio para registrar a cena.

"Está muito bonito. É uma apresentação emocionante e essa ideia de trazer crianças deixou tudo perfeito", afirmou o arqueólogo Julio Thomas que estava na Rodoviária e decidiu assistir a apresentação. "Gosto muito quando o fandango sobe a serra. Vou vê-los domingo em Paranaguá, com certeza", afirmou.

Mestre Nemésio também destacou a presença das crianças. "Nós também somos crianças, queremos ser como eles, e se queremos preservar nossas tradições, nossa cultura, precisamos nos apresentar para elas", afirmou.

A professora de Educação Física da Escola Municipal Dr. Osvaldo Cruz, Melina Cavalcanti diz que a participação da turma permitiu às crianças viver um momento cultural diferente, que não faz parte do seu dia a dia. "É importante que eles conheçam as diferentes formas de manifestação cultural", afirma.

A apresentação do Grupo de Fandango Pés de Ouro foi uma iniciativa da Urbs que contou com apoio da Fundação Cultural de Paranaguá e Prefeitura de Paranaguá. Há dois meses, a Urbs vem promovendo uma série de eventos culturais na Rodoviária dentro de uma proposta de criação de novas oportunidades de lazer, cultura, entretenimento e serviços no principal portão de entrada da cidade.

O Grupo Pés de Ouro foi criado pelos irmãos Nemésio e Gerônimo Costa em 2002, com o objetivo de unir um grupo de pessoas, todas com raízes fandangueiras e alguns integrantes oriundos do Grupo de Fandango do Mestre Eugênio. Desde então, em bailes onde são contadas histórias antigas, causos, recitados versos e consumida a culinária típica, o Mestre Nemésio e seu grupo promovem o fandango buscando manter viva a cultura caiçara.

Origem

Caiçara é uma palavra de origem tupi que significa pessoas que vivem da pesca de subsistência e, com o passar do tempo, passou a designar diversos itens da cultura e também habitantes do litoral de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. As comunidades caiçaras nasceram a partir do século XVI da miscigenação de brancos de origem portuguesa com grupos indígenas destas regiões.

O fandango é uma expressão artística popular originada no período barroco, em Portugal e Espanha. Tem movimentos vivos e agitados e é acompanhada de sapateado ou castanholas reunindo dança e música.

Considerado a mais legítima manifestação cultural do Paraná, cujas origens remontam ao tempo da colonização, o fandango surgiu entre as famílias que dependiam da agricultura de subsistência, que dividiam suas funções na roça entre homens, mulheres e crianças da família.

Para os trabalhos mais pesados, convocava-se um mutirão na comunidade. Os mutirões acabavam sempre em um baile de fandango, uma festa de família, solidária, de confraternização onde estranho ou quem não fosse convidado não entrava. O pagamento pelo trabalho na roça era a festa, o baile de fandango, o divertimento.

Todos os elementos do Fandango são parte da tradição oral. As danças são conhecidas como um conjunto de coreografias chamadas "marcas" acompanhadas por um conjunto musical geralmente formado por duas violas, uma rabeca, um machete, um adufo e uma caixa. Todos os instrumentos são confeccionados por artesãos da própria comunidade, geralmente pertencentes à família de fandangueiros.

O fandango hoje é um bem registrado e reconhecido como patrimônio imaterial da cultura brasileira pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Os mestres receberam o Certificado de Registro de Bem de Natureza Imaterial do Fandango Caiçara concedido pelo Iphan.